sábado, 4 de março de 2017

Resenha #5 - Minha Vida

Robert Crumb: Caipira ingênuo, estrela egocêntrica, maníaco sexual e pervertido, sujeito normal e bom vizinho, andarilho, neurótico, bunda-mole e sentimental, chapado e degenerado.
Afinal, quem é esse tal de Crumb?
"Só depende do meu humor, no momento!" (O cara!)

Se tratando do mundo dos quadrinhos, acrescentaria gênio a essa vasta galeria de definições.
Talvez o maior nome da cena underground americana nos anos 60, 70 e  80, Crumb escandalizou uma sociedade conservadora com seus ideais amorais, sua mente pervertida e seu traço inconfundível. Entre muitas obras primas, destaco um quadrinho onde o próprio tenta se definir e se entender. " Minha Vida"

Minha Vida, Conrad, 2010


Crumb possui inúmeros defeitos dos quais ele não esconde, e não se inibe em registrar nos seus trabalhos. Sua opinião política, seu xenofobismo, seu modo de ver e tratar as mulheres e suas experiências ilícitas ao longo de sua vida. Tudo está presente em seus desenhos.
Em Minha Vida, um pequeno resumo autobiográfico de sua jornada, da sua entrada no mundo dos quadrinhos  e trabalhos, passando pela sua vida pessoal ( incluindo suas histórias com o LSD e seu relacionamento com a parceira e também cartunista Aline Kominsky-Crumb).

Crumb tem trabalhos maravilhosos e personagens criados que se tornaram icônicos como Mr. Natural e Fritz, The Cat, e sua arte tem personalidade e estilo próprio. Para quem não o conhece, esta autobiografia é a porta de entrada perfeita. Talvez você não descubra se afinal, ele é o bunda-mole, degenerado ou incompreendido, mas com certeza o tal do Crumb vai mudar sua percepção sobre a sua vida!
...ao menos a vida dele...

Carpe Diem, Carpe Gibis!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Resenha #4 - Coleção Marvel Graphic Novels - Classicos I - Marvel Origens, A década de 60

Clássico é clássico! E vice-versa...( nobre autor desconhecido)

Com esta frase maravilhosa, apresento uma breve resenha sobre o 62º volume da coleção de encadernados, lançada aqui no Brasil em 2014 pela editora Salvat. Sim, edição número 62. Anteriormente, a Salvat publicou 60 encadernados, abrangendo um conteúdo mais recente, sagas do final dos anos 90 e 2000. Em março de 2016, chegou nas bancas a expansão desta coleção, com previstos mais 60 volumes ( lá fora, será expandida para mais 60, totalizando 180 encadernados!!)
Destes novos 60 volumes, 40 deles são destinados as primeiras histórias do universo Marvel, datadas dos anos 60 e 70, e em sua grande maioria, material inédito ou publicado somente uma vez aqui no Brasil, ainda nos anos 80 no saudoso formatinho. E nada melhor do que começar com os principais heróis da editora, em suas primeiras aparições.

Marvel Origens - A Década de 60, Salvat, 2016

Temos aqui, as primeiras histórias do Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Capitão América, X-Men, Incrível Hulk, Thor, Demolidor, Homem de Ferro, Homem-Formiga e Vespa, todas dos anos 60 e com um valor histórico imensurável para o mundo dos quadrinhos.
Para os jovens leitores, é bom deixar claro que são histórias com narrativas diferentes, muitos balões e cenas sendo explicadas incansavelmente. As narrativas de hoje, tem mais de 50 anos de evolução, então, não podemos comparar com materiais atuais.
Contudo, as artes são atemporais, os desenhos dos mestres Jack Kirby, Steve Ditko, Don Heck, são para serem apreciados sempre.

Como disse, trata-se de um material datado, que vai agradar os leitores das antigas, seja pelo saudosismo de reler histórias, antes lida  na infância, seja pelo acompanhamento que fazemos destes personagens ao longo dos anos, suas mudanças e jornadas. Mas fica a dica para quem está começando a ler HQs de heróis hoje, Conhecer o passado é o melhor jeito de compreender o que pode vir no futuro...

Carpe Diem, Carpe Gibis!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Resenha #3 - Doutor Estranho - O Juramento

...Stephen Strange foi um grande cirurgião, hoje é um grande mago. Enquanto médico, fez o Juramento de Hipócrates, no qual jurou praticar a medicina honestamente. Hoje, enquanto Mago Supremo, ele pode fazer escolhas...

Doutor Estranho - O Juramento, Panini,2016

Dividida em uma minissérie de 5  partes, O Juramento (Doctor Strange: The Oath) foi publicado em 2006 lá fora e aqui no Brasil em 3 oportunidades (2014, pela Salvat e 2007 e 2016 pela Panini) e é considerada uma das grandes histórias do Doutor Estranho. E de fato é!

A história conta uma descoberta do Doutor que pode mudar o Status Quo da medicina.
Quando seu fiel ajudante Wong, é diagnosticado com um tumor cerebral, Stephen Strange não mede esforços e vais até  dimensões mais obscuras atrás de um elixir que pode curar seu amigo, mas ao retornar, descobre que está de posse de algo que pode ser a cura de todos os cânceres do mundo.
Um roubo misterioso, faz Doutor Estranho e Wong ingressarem numa investigação perigosa e deflaga com algumas questões éticas, cruciais para o destino de todos.

O roteiro é de Brian K.Vaughan (autor do excelente Y, o Último Homem) e traz uma pequena série, mas importante para quem não está familiarizado com o universo mágico do Doutor Estranho. 
Ao mesmo tempo que Vaughan reconta as origens do mago (mesmo que  brevemente) e apresenta um pouco do seu universo, ele nos trás uma bela história de conceitos éticos, conspiração e decisões conflitantes do já experiente Doutor. Inclui também os personagens da Enfermeira Noturna e do Wong de forma ávida e importante para a história. 


Um ponto não satisfatório para mim foi a apresentação e desenvolvimento do antagonista do Doutor e a falta de mais esclarecimentos sobre sua posição sobre o tal elixir, faltou algo ali...

Enfim, para quem só conhece Doutor Estranho pelo cinema, temos aqui algo recomendável para iniciar, indispensável e de fácil acesso. A porta de entrada para o universo místico da Marvel, e para novos conceitos que serão altamente ampliados se você visitar o Doutro Estranho de Steve Ditko e toda psicodelia nas histórias dos anos 70...

Carpe Diem, Carpe Gibis!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Resenha #2 - Batman - Asilo Arkham

...Grant Morrison é conhecido por seus roteiros lisérgicos, narrativa diferenciada e complexa. O desenhista Dave McKean é conhecido por seu deslumbrante trabalho gráfico, um mestre na composição artística. Batman é O Batman!
Em 1989 a DC Comics juntou esses 3 ícones e o resultado foi a aclamada graphic novel
"Asilo Arkham - Uma Séria Casa em um Sério Mundo" (Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth), uma obra fechada, peculiar e que se tornou uma das mais aclamadas do universo do morcego.

Asilo Arkham, Panini 2016

A história começa quando o Coringa causa um motim na Prisão do Arkham, toma reféns e pede a presença do Batman para um joguinho particular. Outros famosos inimigos do morcego estão ali, Duas Caras, Mascara Negra, Killer Croc entre outros, aproveitando o caos para iniciar singelas vinganças contra seu maior algoz. Coringa e os demais sempre causaram dor de cabeça ao Batman, mas a medida que a história se desenrola, vemos um Batman sufocado, tenso e as vezes com medo, e entender o que está causando isso é o segredo da história. Paralelo a isso, temos contada a história do fundador do Asilo Arkham, o Ammadeus Arkham, lá nos anos 20, e essa história ecoa nos fatos presentes...

Relendo pela 3ª vez, acho que já consigo perceber bem mais coisas intrínsecas dentro da história. Trata-se de um conto de terror psicológico, onde as ações do Batman, seu antagonista amoral Coringa e um 3º personagem caminham lado a lado e um influenciando a outra. E é dentro desta narrativa, não tão linear e explicita, qua arte de Dave McKean se sobressai e torna-se essencial na obra, A composição de cada página é belíssima, e expressa coisas que os diálogos de Morrison podem ter passados despercebidos a uma primeira lida.


Esta edição definitiva, relançada pela Panini em 2016 (já fora lançada pela editora Abril em 1990 e pela própria Panini em 2013, com letramento errado), contém na parte dos extras, o roteiro completo escrito por Morrison, com comentários do próprio autor, explicando o que ele queria inicialmente, o que não deixaram publicar e muitas explicações no geral que vão ajudar na compreensão da leitura com toda certeza. Também varias artes conceituais de McKean. Uma edição primorosa, uma história impactante, a altura do que o Homem-Morcego, o palhaço do crime e o leitor exigente, merecem.

Carpe Diem, Carpe Gibis!

sábado, 7 de janeiro de 2017

Resenha #1 - Maus

...pois bem, iniciando os posts de resenhas de materiais que li, nada mais justo do que iniciar com aqueles que mais gostei até hoje. E escolhi a HQ "Maus", de Art Spiegelman, lançada em 1980, sendo finalizada em 91. No Brasil, chegou em 1987 pela Editora Brasiliense e atualmente, é facilmente encontrado  pelo selo Quadrinho na Cia.

Maus - A História de um Sobrevivente - Cia das Letras, 2009

Spiegelman é sueco, filho de judeus e escolheu uma tragédia familiar para retratar e nos contar:
O Holocausto.
Sim, a tragédia pessoal dele, também é de muitos e já conhecemos bem. Iniciando a leitura, vemos que não é exatamente ele o retratado na obra e sim, seu pai Vladek, e a saga vivida por ele durante a Segunda Guerra Mundial.

Há dois pontos interessantes aqui. A primeira, como não poderia deixar de ser, a história é forte
(o Holocausto assim o foi), detalhes pesados são contados e histórias tristes vem à tona.
O segundo ponto, foi como Art Spiegelman resolveu caracterizar seus pais, a si mesmo e todas as pessoas relatadas: Todas são desenhadas como animais, antropomórficos, onde cada povo foi transformado em um animal distinto ( judeus como ratos, alemães como gatos, poloneses como porcos, etc.).
Isso pode ter suavizado a história a um primeiro olhar?
Sim, pode, mas gosto de ver um outro aspecto bacana. Colocando todos os judeus como ratos, não vemos apenas Vladek e sua esposa Anja sofrendo e sim, vemos toda a raça judia como um todo, assim como quando vemos os porcos, ou os gatos, ou até os incômodos cachorros (estadunidenses), vemos grupos distintos, separados, lutando pelo seu próprio ideal. Aquele papinho de que " somos todos humanos" é bonitinho, mas não condiz com as ações ocorridas em um capitulo tenso das relações "humanas".
Uma frase do velho Hitler cai bem aqui:
"Os judeus são indubitavelmente uma raça, mas eles não são humanos".
Ninguem é, e Art nos deu uma boa sacada aqui ;)

Fazendo um apanhado rápido sobre a HQ, Spiegelman mostra como a ideia de contar esta história surgiu, as conversas com o pai e o desenrolar dos momentos onde Vladek vai contando o que passou, desde as primeiras noticias de perseguições a judeus, indo até onde suas memórias poderiam nos contar. Em paralelo a isso, Art também retrata seu relacionamento com o pai, hoje, um velho um tanto quanto ranzinza e como toda a triste experiência pode tê-lo moldado a este velhinho chato.

A arte é boa, as vezes simples e sua narrativa flui facilmente.

Tive uma grande experiência lendo esta obra, li na adolescência, reli no último ano e lerei até o fim da vida novamente. É uma daquelas obras que fascinam, por contar a realidade, por ter uma narrativa excepcional, e por nos ensinar muito sobre o que somos, o que fizemos e como fizemos a história.

Um quadrinho pode arrancar sorrisos quando lemos sobre uma dentucinha aloprando os amigos, ou quando vemos um menino e seu tigre. Um quadrinho pode nos levar a mundos Kryptonianos ou ao Japão feudal. Mas um quadrinho também pode te dar um soco no estômago, e nos fazer refletir e pensar de uma forma primorosa.

Carpe Diem, Carpe Gibis!

domingo, 1 de janeiro de 2017

Bem-vindos!

Olá amigos! Bem-vindos a este pequeno espaço literário...
Por favor, sente-se, pegue um café, um gibi e venha resenhar comigo cada obra, nova ou velha, independente ou do mainstream, não importa, o importante é que ela valha a pena ser compartilhada, seja a experiência, diversão, perturbações ou qualquer coisa que ela te proporcione. Vou tentar usar estas linha para fazer o mesmo, expor cada quadrinho que passe pelas minhas mãos, conversar sobre colecionismo e ao mesmo tempo, interagir com mais e mais pessoas, opiniões distintas ou que corroborem as minhas, tudo que seja útil para aproveitarmos cada obra da nona arte.

Escolhi como título do blog, um trocadilho besta, usando a velha e manjada expressão do latim
"Carpe Diem" ("Aproveite o Dia"), em prol do universo dos gibis, por que no final, é isso que temos que fazer em tudo na vida! Carpe Diem, Carpe Noctem, Carpe Gibis!!