...pois bem, iniciando os posts de resenhas de materiais que li, nada mais justo do que iniciar com aqueles que mais gostei até hoje. E escolhi a HQ "Maus", de Art Spiegelman, lançada em 1980, sendo finalizada em 91. No Brasil, chegou em 1987 pela Editora Brasiliense e atualmente, é facilmente encontrado pelo selo Quadrinho na Cia.
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Maus - A História de um Sobrevivente - Cia das Letras, 2009 |
Spiegelman é sueco, filho de judeus e escolheu uma tragédia familiar para retratar e nos contar:
O Holocausto.
Sim, a tragédia pessoal dele, também é de muitos e já conhecemos bem. Iniciando a leitura, vemos que não é exatamente ele o retratado na obra e sim, seu pai Vladek, e a saga vivida por ele durante a Segunda Guerra Mundial.
Há dois pontos interessantes aqui. A primeira, como não poderia deixar de ser, a história é forte
(o Holocausto assim o foi), detalhes pesados são contados e histórias tristes vem à tona.
O segundo ponto, foi como Art Spiegelman resolveu caracterizar seus pais, a si mesmo e todas as pessoas relatadas: Todas são desenhadas como animais, antropomórficos, onde cada povo foi transformado em um animal distinto ( judeus como ratos, alemães como gatos, poloneses como porcos, etc.).
Isso pode ter suavizado a história a um primeiro olhar?
Sim, pode, mas gosto de ver um outro aspecto bacana. Colocando todos os judeus como ratos, não vemos apenas Vladek e sua esposa Anja sofrendo e sim, vemos toda a raça judia como um todo, assim como quando vemos os porcos, ou os gatos, ou até os incômodos cachorros (estadunidenses), vemos grupos distintos, separados, lutando pelo seu próprio ideal. Aquele papinho de que " somos todos humanos" é bonitinho, mas não condiz com as ações ocorridas em um capitulo tenso das relações "humanas".
Uma frase do velho Hitler cai bem aqui:
"Os judeus são indubitavelmente uma raça, mas eles não são humanos".
Ninguem é, e Art nos deu uma boa sacada aqui ;)
Fazendo um apanhado rápido sobre a HQ, Spiegelman mostra como a ideia de contar esta história surgiu, as conversas com o pai e o desenrolar dos momentos onde Vladek vai contando o que passou, desde as primeiras noticias de perseguições a judeus, indo até onde suas memórias poderiam nos contar. Em paralelo a isso, Art também retrata seu relacionamento com o pai, hoje, um velho um tanto quanto ranzinza e como toda a triste experiência pode tê-lo moldado a este velhinho chato.
A arte é boa, as vezes simples e sua narrativa flui facilmente.
Tive uma grande experiência lendo esta obra, li na adolescência, reli no último ano e lerei até o fim da vida novamente. É uma daquelas obras que fascinam, por contar a realidade, por ter uma narrativa excepcional, e por nos ensinar muito sobre o que somos, o que fizemos e como fizemos a história.
Um quadrinho pode arrancar sorrisos quando lemos sobre uma dentucinha aloprando os amigos, ou quando vemos um menino e seu tigre. Um quadrinho pode nos levar a mundos Kryptonianos ou ao Japão feudal. Mas um quadrinho também pode te dar um soco no estômago, e nos fazer refletir e pensar de uma forma primorosa.
Carpe Diem, Carpe Gibis!